Revista: "PERGUNTE E RESPONDEREMOS"
D. Estevão Bettencourt, osb.
Nº 331 - Ano 1989 - p. 571
Segue-se o testemunho de um convertido do Luteranismo, que expõe sumariamente como chegou ao Catolicismo por um toque da graça, e exorta os fiéis católicos a uma vida fiel à sua vocação em busca da santidade. Esta é a riqueza da Igreja e o sinal capaz de impressionar os que não a conhecem.
Transcrevemos da revista portuguesa "Rosário de Maria", abril de 1984, pp. 187-187, o depoimento de um cristão luterano convertido ao Catolicismo. É muito significativo, principalmente porque dá ênfase aos valores espirituais que devem existir na Igreja Católica e que são o dom de Deus mais eloquente para o homem de hoje. É a resposta a que aspira toda criatura que procura Deus entre os homens.
"O PÓS-CONCÍLIO
São muitos os que erguem a sua voz nestes tempos do Pós-Concílio e muitos são os que julgam Ter razão. O Papa João XXIII quis um pouco de ar fresco dentro da Igreja e veio um vendaval, um terremoto. E neste terremoto não são poucos os olhares que se dirigem para os Irmãos Separados. Estes perguntam-se: Que é o que nos separa dos Católicos? Temos comprovado que os textos do Evangelho são exatamente os mesmos na Bíblia católica que na Bíblia protestante. Que é o que nos separa? Isto mesmo me perguntaram muitíssimos, inclusive sacerdotes católicos.
Sou um convertido do protestantismo e resido em Espanha, porque no meu país não me era possível viver segundo a minha Fé, receber os Sacramentos e fazer visitas ao Senhor Jesus sacramentado...
Contaram-me que, há umas dezenas de anos, numa povoação espanhola, como em muitíssimas outras, havia muita miséria, bandos de mendigos, homens e mulheres esqueléticos. E, hoje, em dita povoação e noutras abundam os automóveis e o bem-estar. Economicamente quase estão ao nível dos países nórdicos protestantes.
Agora, porém, as ruas destes povos que desfrutam dum bem-estar temporal superabundante, estão cheias de homens famintos espiritualmente. As suas almas sentem uma fome terrível. E intentam suavizar essa fome com alcool, com drogas, com divertimentos, com uma vida sexual desenfreada.
Somos seres compostos de corpo e alma, sendo esta a parte mais nobre e importante.
Tempos de Mudança
Muitas destas pessoas dos países nórdicos dirigem o seu olhar para a Igreja Católica. Mas, hoje em dia, esta parece encontrar-se envolvida em nuvens, em ventanias, em fumo. Dizem-lhes que está a viver "Tempos de Mudança..."
Porém, neste formigueiro de mudanças, há sempre uns valores intangíveis. Um, e o mais importante deste valores, é a sacralidade da Igreja. A Igreja Católica é a única verdadeira Igreja de Cristo, que possui toda a verdade e está fundada sobre a Rocha de Pedro. As palavras: "Tu es Petrus" = "Tu és Pedro", têm mais alcance do que os protestantes imaginam. A Igreja Católica é incomovível, possui o Dom da Sabedoria. Basta ler os documentos do Concílio Vaticano II, para se convencer disto. Mas nem todos aqueles que se empenham em aplicá-los, na vida diária, ao seu apostolado, ao seu ministério, têm o Dom de Sabedoria. Aqui é que está o falhanço.
A minha conversão
Já disse que sou um convertido do protestantismo, melhor dito, do luteranismo. A minha conversão teve lugar subitamente e em circunstâncias especiais. Deus pôs-me contra a parede e perguntou-me: Sim ou Não? Mas havia-me preparado desde muito tempo. Cria em Deus, mas vivia mais como indiferente. Tinha pensado, algumas vezes, em fazer-me católico, mas pareceu-me que era dar um salto na escuridão, como se tivesse de escalar um muro muito alto e não sabia, em concreto, o que estava detrás desse muro. Estava provavelmente o mesmo que em todas as religiões e confissões: Alguma coisa de Deus, hinos devotos, muito sentimento. Além disso, no Catolicismo havia superstições: milagres, Maria, etc. Mas, apesar disso, o Catolicismo atraía-me.
Deus empurrou-me para a sua Igreja. E a experiência que transformou toda a minha vida interior era a experiência de qualquer coisa infinitamente santa, que jamais havia sonhado pudesse existir. Mais tarde a essa qualquer coisa comecei a chamá-la: A eletricidade da Igreja. E posso chamá-la muito bem assim... No entanto, durante uns dois anos não compreendi que esta santidade que, digamos, me rodeava e me penetrava, vinha da Sagrada Comunhão, da Presença Real de Jesus Cristo na Eucaristia e da intervenção da Santíssima Virgem.
Maria e os Protestantes
Muitos protestantes anseiam por Maria, mais ou menos vagamente. Para mim, Maria era ponto difícil depois da minha conversão. Havia-a considerado sempre como uma criatura pecadora igual a todos nós. Uma das objeções que me apresentou, contra Ela, um missionário luterano, era esta: É preciso manter a doutrina pura. Maria teve vários filhos com José. Havia nascido neste ambiente e nele crescido. Foi a mesma Virgem Maria quem me iluminou, e depois da Sagrada Comunhão nada há que tanto me encha como as palavras: Ave, (= Deus te salve) Maria!... Estas palavras têm, em minha alma, um eco profundo e sobrenatural. Ave, (= Deus te salve), Maria, cheia de graça...
Os Carismas nas outras Confissões
Com tudo o que escrevi, não quero dizer que as outras confissões não possuam algumas graças ou, digamos, carismas. Têm-nos seguramente, pois Deus não nega as suas graças a um coração humilde e sincero, e essas confissões até têm os seus eleitos. Tenho-me fixado neles depois da minha conversão; antes não me interessavam. Nem sequer os compreendia.
Os Santos
Pelos seus frutos os conhecereis - disse o Senhor. Os frutos da Igreja Católica são os Santos. Fora dela não se admite que o homem possa chegar à santidade. O protestantismo qualifica de idolatria o culto dos Santos.
Como realizar o Ecumenismo?
Segundo o meu parecer, a única maneira consiste em que os católicos se façam santos e assim atrairão os que estão fora. Que vivam totalmente a sua formosa doutrina. O mundo está ávido de santidade. Nada de discursos ocos, de falsas compreensões. Tornem-se santos aqueles que desejem praticar o Ecumenismo. Deus fará o resto.
Disse-me, uma vez, um católico, quase apóstata: A Religião Católica é muito difícil e severa. Agora compreendo-o Cristo disse: Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Os católicos têm que seguir a Cristo sem mitigações. Uma mulher luterana... disse-o muitas vezes, com as luzes que havia recebido diretamente do Alto. E uma destas verdades é a seguinte: Ninguém chega ao Coração do Pai, sem haver compreendido o mistério da Cruz. Quem quiser seguir a Cristo, tem que sofrer e expiar. Tem que deixar-se transformar em Cristo na medida que o Pai quiser.
Pelos frutos se conhecerá. Quanto mais Santos houver na Igreja Católica, tanto maior será o número dos que se hão de converter, porque atraem.
Eu caminhava por uma vereda completamente às escuras. Quando entrei na Igreja, os meus olhos abriram-se. Vi. E cada dia vejo mais claramente. Os horizontes dilatam-se sem cessar. Isto é felicidade imensa. É dessa mesma dita quisera que gozassem os meus irmãos luteranos. Quem é feliz, deseja para todos a mesma felicidade. Deste desejo nasce o apostolado. E o apostolado mais eficaz é o da oração junto a uma vida sacrificada, que nasce, cresce e se nutre do Amor. Da chama do Amor vivo."
Merece especial destaque os dois últimos subtítulos deste depoimento, pois tocam o essencial em todo o apostolado da Igreja e no exercício do diálogo ecumênico. A santidade ou a fidelidade incondicional a Cristo encarnado na sua Igreja é o sinal mais persuasivo de que Deus está presente entre os homens.
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