Dom Eduardo Benes
Arcebispo de Sorocaba (SP)
Está programada na França a “Marcha pela Vida 2012”. A cultura de morte é fruto natural do egoísmo e da soberba. O Egoísmo aparece na cultura pós-moderna justificado pelo pretenso direito do indivíduo a dispor de si, e até mesmo de seus dependentes, para satisfazer seus desejos. A soberba se encarrega de fazer do sujeito, indivíduo, a norma suprema de suas próprias decisões.
Os indivíduos, unidos em torno de propostas de vida e de ação nascidas dessa fonte, pressionam para que a lei civil lhes garanta o próprio arbítrio. Um dos mais desastrosos frutos dessa cultura é o aborto transformado em direito. Passo ao leitor textos da entrevista de Jean-Marie Le Méné, presidente da conhecida Fundação Jérôme Lejeune, veiculada pela Agência de Noticias Zenit. Esclareço que a Fundação Jérome Lejeune leva o nome do pesquisador que descobriu a causa da chamada Síndrome de Down.
Jean-Marie Le Méné, perguntado sobre a motivação da “Marcha pela Vida 2012”, respondeu: “O calendário político de 2012 na França (eleições presidenciais e legislativas) me dão uma oportunidade de falar sobre o respeito pela vida. A situação ficou pior depois da revisão da lei de bioética em 2011. Os manifestantes podem seguir diversas rotas. Nós também, na Fundação Jérôme Lejeune, marchamos pela vida já faz tempo, seguindo os passos do Professor Jérôme Lejeune, de quem temos orgulho de ostentar o nome e de continuar o projeto. Se eu concordei em me manifestar, é porque a situação é preocupante. Ao contrário do que se pensa, a lei de bioética de junho de 2011 reforça os ataques contra a vida, principalmente em dois pontos”. Assim: “Pela primeira vez, a lei obriga todos os médicos a dar a todas as mulheres grávidas informações sobre a análise pré-natal da trissomia 21, que causa a síndrome de Down, permitindo o aborto a qualquer momento. Antes da lei de 2011, os médicos já estavam fazendo isso, o que levava ao aborto de 96% das crianças trissômicas. Durante as discussões, um parlamentar perguntou por que ainda sobravam 4%... Depois disso, combinar essa prática com uma obrigação legal nos faz passar de um ‘eugenismo’ de fato para um ‘eugenismo’ de direito! Os clínicos gerais, e não só os especialistas em nascimentos, agora estão na linha de frente e vão ter que prestar contas para a justiça sobre os esforços que eles fazem para não deixar mais que nasçam bebês indesejáveis”.
Atenção, leitor(a), para o horror do questionamento de um dos parlamentares franceses: “Durante as discussões, um parlamentar perguntou por que ainda sobravam 4%...” A ordem deve ser: matar todas. Será verdade que na França 96% das crianças em gestação, com síndrome de Down, são impedidas de viver? Uma coisa dessas só pode acontecer onde o outro só pode existir em função do meu “bem estar”. Só não entendo como pode “estar bem” quem descarta o outro deficiente? Essa reflexão deve se estender a todo e qualquer tipo de deficiência constatada na fase de gestação, independente da expectativa de sobrevivência do ser humano em gestação. Em nosso país, existem aqueles(as) que defendem o aborto como um direito em quaisquer circunstâncias. Sobre as crianças com síndrome de Down, sabemos que “a pessoa com t21 quando adolescente e adulta tem uma vida semi-independente. Embora possa não atingir níveis avançados de escolaridade, pode trabalhar em diversas outras funções, de acordo com seu nível intelectual”. Mas não é a possibilidade de autonomia, de progresso na escola ou de exercer funções socialmente úteis que nos obriga a respeitar, com amor, a vida desde seu início até seu término natural. É, sim, a dignidade da pessoa humana, cuja vida começa com a fecundação e só se encerra neste mundo com a morte. Aborto e eutanásia são o fruto do egoismo instalado na cultura. Não é amor impedir o nascimento de uma criança com a justificativa de que ela será infeliz ou que não sobreviverá ao parto. É medo e incapacidade de assumir a condição humana do outro como própria. A Ministra, Eleonora Menicucci, que está à frente da Secretaria de Políticas para as Mulheres, “promete defender ä liberação do aborto e relatou ter se submetido à prática duas vezes”. Considera o aborto uma questão de saúde pública, assim como o crack e outras drogas. E assevera que o assunto não é uma questão ideológica. Estou de acordo, mas com conclusões opostas. Como questão de saúde pública – comparável ao crack – o poder público deveria combater por todos os meios a prática do aborto, penalizando com rigor os donos de clínicas clandestinas e oferecendo acompanhamento médico para todas as grávidas para que não sejam vítimas da violência do abortamento. Por não ser uma questão ideológica, mas uma questão ética, é dever de todos, sobretudo dos governantes, empregarem todos os meios para banir da sociedade tão hedionda prática. Não podemos legalizar o crack.
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