Dom José Alberto Moura
Arcebispo de Montes Claros (MG)
Determinados tipos de enfermidades não são curados, mesmo se as pessoas tiverem rios de dinheiro. Um deles é a doença da falta de amor, justiça e solidariedade. Com a presença destas as pessoas superam seus limites ou deficiências, a ponto de se realizarem plenamente como humanas.
Jesus veio nos garantir a superação de nossas fragilidades com a vida de inteira doação de si em bem da humanidade.
Enriqueceu-nos com a dádiva do amor extremado, culminando com seu holocausto para nos redimir da doença do pecado e do egoísmo exacerbado. Seu perdão aos criminosos foi proferido do alto da cruz: “Pai, perdoai-lhes. Eles não sabem o que fazem”. Mas sua aparente derrota com a morte mais vil na cruz foi instrumento necessário para demonstrar sua natureza divina, através da ressurreição a seguir.
Ele veio nos restituir a maior riqueza, a do amor. Com ele temos o instrumento necessário para erradicarmos as causas de morte e de doenças superáveis na face da terra. Deus quer o bem e a vida digna para todos. Mas nos dá a responsabilidade de o usarmos para promovermos a cidadania para todos. Riquezas materiais, intelectuais e espirituais são acumuladas em mãos de minorias, que nem sempre sabem partilhá-las com ações de promoção da justiça e da solidariedade. O egocentrismo é a pior doença. Quem a tem não pode ser feliz por não colaborar significativamente com a vida de qualidade para os outros. Tal enfermidade precisa ser prevenida e combatida com a educação para a alteridade. Para isso, não basta a formação para um futuro de maior ganho material. Desde o berço deve-se inocular na criança a vacina ou o antídoto contra a busca de vantagens econômicas e culturais sem a hipoteca do amor e da solidariedade. A fé religiosa formatada basicamente na busca do sobrenatural, que reforce o intimismo sem compromisso com o amor, a justiça, a solidariedade e a misericórdia, não consegue perfurar a blindagem do egoísmo. É preciso ativar o uso da dinamite da generosidade e do desprendimento para se fazer chegar ao âmago da mente e do coração a fertilização do verdadeiro amor. Ele traz a autêntica saúde espiritual e tudo renova na pessoa.
Desta forma, o ser humano aceita como dom o que Cristo veio nos trazer: “Deus nos ressuscitou com Cristo e nos fez sentar nos céus, em virtude de nossa união com Jesus Cristo... é pela graça que sois salvos, mediante a fé” (Efésios 2,.8). Cooperando com o dom da fé, a pessoa a torna transformadora de sua vida e sua conduta, para ajudar a realizar um convívio de maior benefício social e humano. Assim coopera para que a saúde, em todas as dimensões, se torne realidade para todos.
Na história da serpente de bronze, erguida para que os judeus picados de cobra olhassem para ela e ficassem curados, encontramos uma simbologia de também sermos antídotos da doença do egoísmo para os outros (Cf. Jo 3,14-16). O próprio Jesus mandou que seus discípulos fossem luz para o mundo. Precisamos, de fato, ter sempre a energia do amor e da solidariedade para ajudarmos o próximo a enxergar essas mesmas virtudes e também aplicá-las em sua vida. Desta forma, democratizaremos a saúde da solidariedade para todos.
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