sábado, 3 de novembro de 2012

COORDENAR A PARTIR DAS VIRTUDES TEOLOGAIS - XI



“Como bons administradores da multiforme graça de Deus, cada um
coloque à disposição dos outros o dom que recebeu” (1Pd 4,10).

Coordenar com Fé 

O que significa ter fé? Como viver pela fé? E como posso coordenar a partir da fé? Estas questões nortearão a nossa conversa sobre a fé. Teríamos muitos tratados, livros de teologia para nos fundamentar sobre este assunto, mas preferimos partir da nossa prática de vida como catequistas coordenadores. Fé está relacionada a crer, está relacionada à relação religiosa que o ser humano estabelece com Deus, o crer significa, portanto, confiar, ter confiança. O crer pode também significar estar firme com segurança e solidez. 
O catequista coordenador lidera a partir da fé, caso contrário, o ministério da coordenação perderia sua característica fundante: nos tornaríamos meros coordenadores pedagógicos como qualquer instituição de ensino. A fé nos dá a diferença. O coordenador de fé tem o seu olhar para além das aparências, consegue ter sensibilidade para ir além.

A fé é a virtude teologal pela qual cremos em Deus e em tudo o que Ele nos disse e revelou e que a santa Igreja nos propõe para acreditarmos, porque Ele é a própria verdade. Pela fé, “o homem entrega-se total e livremente a Deus”. E por isso, o crente procura conhecer e fazer a vontade de Deus. “O justo viverá pela fé” (Rm 1, 17). A fé viva “atua pela caridade” (Gl 5, 6).

A fé nos dá a segurança de bem coordenar, motivar a animar o grupo de catequistas, pois pela podemos nos lançar no invisível, no não conhecido, na entrega total.. Assim a fé me sustenta como coordenador do grupo de catequistas. Mas é preciso compreender também que a fé é dom que recebemos de Deus, dom que recebemos na gratuidade, por isso precisamos nos esforçar para que a nossa fé seja de práticas, pois “sem obras, a fé está morta” (Tg 2, 26): privada da esperança e do amor, a fé não une plenamente o catequista coordenador a Cristo, nem faz dele um membro vivo do seu corpo.

 O discípulo de Cristo, não somente deve guardar a fé e viver dela, como ainda professá-la, dar firme testemunho dela e propagá-la: “Todos devem estar dispostos a confessar Cristo diante dos homens e a segui-Lo no caminho da cruz, no meio das perseguições que nunca faltam à Igreja”. O serviço e testemunho da fé são requeridos para a salvação: “A todo aquele que me tiver reconhecido diante dos homens, também Eu o reconhecerei diante do meu Pai que está nos céus. Mas àquele que me tiver negado diante dos homens, também Eu o negarei diante do meu Pai que está nos céus” (Mt 10, 32-33).

Você, catequista coordenador que anima o grupo de catequista, deve dedicar tempo para rezar por cada catequista que assume o ministério catequético na sua comunidade, este  é um jeito de você buscar perceber em cada um a presença de Cristo. 

Nos Evangelhos vemos a força que as pessoas que têm fé conquistam: “Tua fé te curou” Mt 9,22. Mesmo se consideramos nossa fé ainda pequena seremos capazes de coordenar com grande força: “Se tivésseis fé pequenina como um grão de mostarda, diríeis a este monte: Sai daí para lá; e ele iria. Nada vos será impossível” Mt 17,20.  Jesus não está ensinando ninguém a fazer mágica diante das situações que a vida nos coloca. Menos ainda, quando nos colocamos como liderança, pois sabemos que os problemas aumentam, muitos nos procuram e só a fé nos ajuda a olhar além do monte de problemas, a acreditar que tudo é possível. 
Quando você olha para o grupo de catequistas que coordena, o que significa cada um deles para você?  Consegue crer no que há de bom neles? Ou é muito pessimista e vê apenas as coisas negativas?  

Coordenar com Esperança

Tem uma canção do Pe. Zezinho em um trecho que diz assim: “Esperar contra toda esperança caminhar como quem tem certeza...”. A esperança é a certeza do que ainda está por acontecer, só conquista aquela pessoa que se coloca a caminho, que ainda não tem tudo o que deseja. O ser humano oscila entre o já do presente e o “ainda não”. O catequista coordenador tem que ser uma pessoa preenchida de esperança, tem que ser uma pessoa aberta ás expectativas do futuro, tanto positivos como negativos. Como acreditamos na esperança cristã sabemos que Deus guarda para nós sempre o melhor do que o passado e o presente.

A virtude da esperança corresponde ao desejo de felicidade que Deus colocou no coração de todo o homem; assume as esperanças que inspiram as atividades dos homens, purifica-as e ordena-as para o Reino dos céus; protege contra o desânimo; sustenta no abatimento; dilata o coração na expectativa da bem-aventurança eterna. O ânimo que a esperança dá preserva do egoísmo e conduz à felicidade da caridade.

O catequista coordenador movido pela esperança se lança no que vem. Aquele que vive na esperança possui saúde mental e equilíbrio psicológico, vive alegre e vivaz. A esperança faz a pessoa se erguer, já a falta de esperança deprime, perde o horizonte, sem esperança ninguém agüentaria viver. 

A esperança cristã manifesta-se, desde o princípio da pregação de Jesus, no anúncio das bem-aventuranças. As bem-aventuranças elevam a nossa esperança para o céu, como nova terra prometida e traçam-lhe o caminho através das provações que aguardam os discípulos de Jesus. Mas, pelos méritos do mesmo Jesus Cristo e da sua paixão, Deus guarda-nos na “esperança que não engana” (Rm 5, 5). A esperança é “a âncora da alma, inabalável e segura” que penetra [...] “onde entrou Jesus como nosso precursor” (Heb 6, 19-20). É também uma arma que nos protege no combate da salvação: “Revistamo-nos com a couraça da fé e da caridade, com o capacete da esperança da salvação” (1 Ts 5, 8). Proporciona-nos alegria, mesmo no meio da provação: “alegres na esperança, pacientes na tribulação” (Rm 12, 12). Exprime-se e nutre-se na oração, particularmente na oração do Pai-Nosso, resumo de tudo o que a esperança nos faz desejar.

Por isso ter esperança não significa esperar, mas esperançar, ir a luta, não desanimar jamais e enquanto tiver forças, persistir, insistir e investir. No poeta Fernando Pessoa encontramos: “Alague o seu coração de esperanças, mas não deixe que ele se afogue nelas" - 
Como catequista coordenador, como lida com as decepções? Você já desanimou algumas vezes? Você continua trabalhando, tentando motivar o grupo de catequistas para ninguém perceber que você perdeu a esperança? 

Coordenar com Caridade

O papa Bento XVI tem insistido muito sobre este tema, a caridade, o amor, o ágape. Porque será que o santo padre tem insistido neste tema em suas encíclicas, catequeses e homilias? Olhando para a história do povo de Deus percebemos que os profetas sempre insistiam em determinados assuntos quando este estava faltando. Hoje quando se fala de amor, as pessoas se espantam e colocar o amor em situações erotizadas. O que nos identifica como cristão é nosso jeito de ser e de amar. A caridade é a virtude teologal pela qual amamos a Deus sobre todas as coisas por Ele mesmo, e ao próximo como a nós mesmos, por amor de Deus.

Jesus faz da caridade o mandamento novo (75). Amando os seus “até ao fim” (Jo 13, 1), manifesta o amor do Pai, que Ele próprio recebe. E os discípulos, amando-se uns aos outros, imitam o amor de Jesus, amor que eles recebem também em si. É por isso que Jesus diz: “Assim como o Pai Me amou, também Eu vos amei. Permanecei no meu amor” (Jo 15, 9). E ainda: “É este o meu mandamento: que vos ameis uns aos outros, como Eu vos amei” (Jo 15, 12).

Catequista coordenador que não ama não pode nem ser catequista, pois é o amor que nos humaniza em nossa relação com o outro, com o grupo de catequista ao qual sou chamado a amar e colaborar, amar significa acima de tudo colocar o outro como prioridade em minha vida. O catequista coordenador precisa cultivar em seu grupo de catequistas o amor pelo outro, por causa daquilo que ele é, cada catequista traz uma contribuição rica para o grupo, por isso preciso amar a cada por ser quem é. Esse é o amor de amizade, os catequistas formam-se então ao redor de um clima agradável, amigável e neste clima cada um oferece aquilo que pode para ajuda o outro. “Permanecei no meu amor. Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor” (Jo 15, 9-10). Este é convite para bem conviver, permanecer no amor e ao mesmo tempo um desafio, pois muitas vezes gostaríamos que o outro fosse do que jeito que desejamos e queremos, sabemos que este um caminho que não dará certo, pois preciso amar, por aquilo que o outro é. 

Sem a caridade, diz São Paulo, “nada sou”. E tudo o que for privilégio, serviço, ou mesmo virtude..., se não tiver caridade “de nada me aproveita”. A caridade é superior a todas as virtudes. É a primeira das virtudes teologais: “Agora permanecem estas três coisas: a fé, a esperança e a caridade; mas a maior de todas é a caridade” (1 Cor 13, 13).

Acreditamos que o amor é a condição necessária, essencial, fundamental para que o catequista coordenador bem lidere no grupo de catequistas, que deve se mostrar no respeito pela pessoa do catequista, na estima pela sua dignidade. Quando um coordenador não irradia bondade, jamais poderá conquistar seus catequistas para os objetivos da catequese evangelizadora. Isto não significa que devo amar para que os catequistas me obedeçam, se o coordenador fizer isto, sairá perdendo, pois o amor é gratuito, não tem segundas intenções, consiste em tratar bem os catequistas porque os estimo como são. Amo a pessoa do jeito que ela é. 

Como catequista coordenador, você cria um clima amigável em seu grupo de catequistas? É possível amar os catequistas que nem sempre parecem ser simpáticos com você? 

Pe. Eduardo Calandro
Pe. Jordélio Siles Ledo, css 
Postado por Bíblia e Catequese às 10:52 

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Reflexão

Todas as pessoas costumam falar em justiça ,mas para a maioria delas o fundamento dessa justiça são princípios e valores humanos, principalmente o que está escrito nas leis. Para nós cristãos, esse critério não é suficiente para entendermos verdadeiramente o que é justiça. Não é suficiente em primeiro lugar porque nem tudo o que é legal, é justo ou moral, como por exemplo a legalização do divórcio, do aborto ou da eutanásia. Também devemos levar em consideração que todas as pessoas, embora sejam seres naturais, possuem um dom de Deus que faz delas superiores à natureza, participantes da vida divina, e como Deus é amor, o amor é, para quem crê, o único e verdadeiro critério da justiça

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