sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Tesouro da fé

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Dom José Alberto Moura
Arcebispo de Montes Claros (MG)
É comum vermos pessoas que, à medida do crescimento de seu bem estar material, têm um decrescimento e diminuição de sua fé, a ponto de muitos se tornarem materialistas e sem compromisso com a comunidade religiosa. Tornam-se convictas da “fé” no “deus” dinheiro, bem estar material e projeção social. Mesmo dizendo-se teistas, colocam a razão da vida no comodismo e no descompromisso com a comunidade religiosa e com a justiça social. Como lembra Paulo, seu “deus” é seu ventre. Algumas até se tornam atéias.

Há os que querem a religião “light” ou sem exigências éticas e morais, para seu “consumo” da fé. A “teologia da prosperidade” é buscada para a solução e melhoria de seus problemas físicos e materiais. O dízimo, nessa perspectiva, é dado  para a troca com Deus, buscando  vantagens materiais. A fé autêntica é dom de Deus e resposta da pessoa para realizar o que Ele indica, com uma vida coerente com os ditames da consciência bem formada. A coerência com ela leva a pessoa a ter conduta ética, justa, sincera, retidão moral e compromisso com o bem do semelhante e de toda a sociedade. O bem vivenciado é o conformador com os critérios de justiça, promoção da vida e da dignidade da pessoa humana e o respeito aos valores da proposta cristã e eclesial.
A pessoa de fé consistente não muda de atitude diante da tentação ou da proposta de suborno, de vantagens políticas, sociais e bem estar materiais. Não se dobra aos interesses antiéticos e de pessoas e grupos inescrupulosos. Prefere até perder o cargo e vantagens financeiras e sociais para não perder a dignidade e a altivez de caráter. Não desfaz o casamento realizado com convicção e ideal humano e religioso. Não cede diante de caprichos ou interesses aparentemente inofensivos, mas escusos e cheios de desvio de conduta.
Quem é realmente temente a Deus e fez sua promessa de fidelidade não volta atrás em seu compromisso de fé e lealdade humana e religiosa. Jesus lembra o valor do tesouro do Reino de Deus, que não é trocado por nada, nem mesmo por atrativos de grande valor material: “Onde está o vosso tesouro aí estará também o vosso coração” (Lucas 12,34). Apregoa a vigilância para a pessoa não “cochilar” e não ser pega de surpresa em relação à prestação de contas que se deve dar a Deus no termo da caminhada terrestre, pois, ninguém sabe o dia e a hora dessa realidade (Cf. Lucas 12, 35-40).
A fé precisa sempre do cultiva para sua consistência e seu crescimento. O cuidado, a oração e o discernimento são imprescindíveis. A fé fragilizada pode levar a pessoa a ceder ao mal e às armadilhas da tentação ao consumismo e aos descaminhos da conduta. Leva-a para opções não recomendáveis a quem tem dignidade e valores a preservar na dimensão de valores humanos e cristãos. Assemelha-se a um empregado que não procede responsavelmente na ausência provisória do patrão, que pode chegar a momento não esperado. A vigilância é fundamental para a pessoa não ser pega em atitude não comprometida com a própria responsabilidade.

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Reflexão

Todas as pessoas costumam falar em justiça ,mas para a maioria delas o fundamento dessa justiça são princípios e valores humanos, principalmente o que está escrito nas leis. Para nós cristãos, esse critério não é suficiente para entendermos verdadeiramente o que é justiça. Não é suficiente em primeiro lugar porque nem tudo o que é legal, é justo ou moral, como por exemplo a legalização do divórcio, do aborto ou da eutanásia. Também devemos levar em consideração que todas as pessoas, embora sejam seres naturais, possuem um dom de Deus que faz delas superiores à natureza, participantes da vida divina, e como Deus é amor, o amor é, para quem crê, o único e verdadeiro critério da justiça

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