terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Entrará no Seu Templo o Senhor…

Dom Antonio Carlos Rossi Keller


Dom Antonio Carlos Rossi Keller

Bispo de Frederico Westphalen (RS)

O texto da 1ª Leitura desta Festa da Apresentação do Senhor, tirado do livro do Profeta Malaquias, 3,1-4, procura retratar o amor incondicional de Deus ao seu Povo, a sua paciente e misericordiosa fidelidade à Aliança. Mas retrata também a não correspondência a este maravilhoso Deus de amor.

Deus «queixa-se» de tanta ingratidão, do desprezo a que é votado; de como perverteram os seus ensinamentos; do afastamento e infidelidade à Aliança; de uma religião «pesada» e ritualista, sem consequência na vida pessoal e comunitária.
Este quadro conduz o Povo à dissolução moral, ao não cumprimento da justiça e do amor; ao abandono e exploração dos pobres e dos pequeninos; ao culto reduzido ao puro ritualismo, vazio, incoerente e inconsequente.
Mas o amor deste Deus que é graça e misericórdia clama: purificai-vos; voltai para mim, vereis a justiça, vereis a luz: «Os meus olhos viram a Vossa Salvação».
Toda a Palavra de Deus é a constatação do Deus que é Dom e Misericórdia.
Deus irrompe no meio do seu povo de forma surpreendente e maravilhosa. A entrada no Templo como expressão do Encontro, da Festa, da Comunhão é afirmada por meio de sinais grandiosos. Assim também proclama o salmo responsorial. O sinal é Jesus Cristo, o seu mistério Pascal.
São Lucas, no Evangelho (Lucas 2,22-40) apresenta o cumprimento das promessas: Jesus Cristo, Filho de Deus e de Maria, é o Messias esperado, o rosto amoroso de Deus, o Salvador para todas as nações e povos.
Simeão e Ana são o símbolo do Povo de Israel que permanece fiel à Aliança. São o símbolo de uma oração bíblica e encarnada na vida, de oração sincera e autêntica. São o símbolo dos que viveram segundo o Espírito de Deus, e agora são testemunhas da maravilhosa surpresa de Deus no meio do seu Povo.
Simeão apresenta Jesus não já como pertença ao Povo de Israel, mas a todas os povos e nações. E Maria, nas palavras de Simeão, é fortemente relacionada com a Missão do Messias: «uma espada trespassará a tua alma».
O papel maravilhoso de compromisso, de testemunha e de discípulo dá-se em Maria. Opera-se como consequência da Encarnação e da Maternidade, mas também no anunciado martírio de maternidade universal.
Por isso Maria é o símbolo mais transparente e genuíno da Igreja, do Povo de Deus. No pensamento do Concilio a Igreja está chamada a ser o que Maria foi na sua Pessoa (Lumen Gentium 63 e 64).
São os pobres que vivendo na segurança e no amor de Deus se comprometem verdadeiramente com Ele. Maria e José oferecem segundo o prescrito na Lei a oferta dos pobres: um par de rolas ou duas pombinhas. Neles o culto é a vida e é o amor. Por isso aquela oblação foi única: a oferta do Verdadeiro Cordeiro de Deus,
Jesus Cristo, e suas próprias vidas, totalmente comprometidas com este projeto.
«Tornou-se semelhante em tudo aos seus irmãos». A linguagem do amor e entrega de Deus torna-se perfeita comunicação ao fazer-se igual a nós.
O Templo que Jesus Cristo penetra é a própria Humanidade. Sendo este momento celebração da glória de Deus é por essa razão momento de celebração da glória humana. A glória do verdadeiro homem é Jesus Cristo. Em Cristo se ilumina todo o sentido e fundamento do Homem.
Cristo veio cuidar-nos, ajudar-nos, socorrer-nos, servir-nos. Nele por Ele e com Ele compreendemos a grandeza da nossa vida, a glória a que estamos chamados e a experimentar a força do seu mistério pascal na vitória sobre o pecado e a morte.
Na sequência do Seu Natal também aqui os pequeninos e os insignificantes são escolhidos como fiéis e dóceis interpretes desta salvação que se opera. Envolvidos por esta relação de amor, vivendo a alegria deste encontro tornam-se testemunhas do Messias, do Filho de Deus. Por isso cada um está chamado ao compromisso com a Pessoa e Missão de Jesus Cristo. Somos convidados a uma vida sintonizada com a beleza de toda a História de Salvação e a assumi-la:
•Pela conversão total a Deus, sem medo e com responsabilidade.
•Pela vivência da religião e do culto como uma relação amorosa com incidência na vida, nos compromissos e opções.
•Pela ação do Espírito Santo que permite «ver» a salvação e partilhá-la com alegria e como anúncio da Palavra e da Vida.
•Pelo testemunho pessoal de uma vida coerente e santa.
Na Festa de hoje, há uma especial interpelação à família. As famílias sentem-se muitas vezes tentadas e seduzidas a uma educação que leve ao êxito, à busca de primeiros lugares, à competição egoísta, ao desejo de poder, de riqueza, de beleza, de ser estrela!
É forçoso e necessário educar para a Fé, para a relação pessoal e sincera com Deus, para a bondade, a humildade, o espírito de serviço, o reconhecimento da dignidade de cada pessoa. É necessário educar para o amor numa sadia relação de gerações e na escuta e testemunho dos mais velhos, dos idosos.
Os pais são os primeiros e fundamentais educadores da fé. Por isso os filhos necessitam de ver e palpar neles uma autêntica relação com Deus. A presença de Deus nas suas vidas deve ser notório como acontecimento de alegria e não um peso, um «frete», uma religião de mero cumprimento ritualista sem incidência na vida.

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Reflexão

Todas as pessoas costumam falar em justiça ,mas para a maioria delas o fundamento dessa justiça são princípios e valores humanos, principalmente o que está escrito nas leis. Para nós cristãos, esse critério não é suficiente para entendermos verdadeiramente o que é justiça. Não é suficiente em primeiro lugar porque nem tudo o que é legal, é justo ou moral, como por exemplo a legalização do divórcio, do aborto ou da eutanásia. Também devemos levar em consideração que todas as pessoas, embora sejam seres naturais, possuem um dom de Deus que faz delas superiores à natureza, participantes da vida divina, e como Deus é amor, o amor é, para quem crê, o único e verdadeiro critério da justiça

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