quinta-feira, 3 de março de 2011

Portas abertas


O céu não é como um elevador

 
Os profetas do Antigo Testamento foram capazes de contagiar gerações com o sonho de Deus! Sim, sonho de Deus, porque Ele tem um plano de amor, mas destinado a ser compartilhado com os seres humanos, passando pela misteriosa mediação da liberdade com que nos criou. Isaías (cf. capítulo 66, versículos de 18 a 21) via povos e nações acorrendo ao Senhor, conduzidos ao monte santo em Jerusalém. É a convocação universal, que o apóstolo São Paulo bem descreveu, dizendo: “Deus quer que todos os homens se salvem” (1 Tm 2,4).
No entanto, é recorrente em todas as gerações a pergunta sobre os lugares reservados no Paraíso, não percebendo, por exemplo, que o número de cento e quarenta e quatro mil assinalados (cf. Ap 7, 1-12) tem um valor simbólico – doze ao quadrado, o número das tribos de Israel, multiplicado por mil – explicado imediatamente pela expressão que se segue: “Uma multidão imensa, que ninguém podia contar, gente de todas as nações, tribos, povos e línguas”.

Perguntado sobre o número dos que haveriam de se salvar (cf. Lc 13, 22-30), Jesus muda o rumo da conversa, passando do “quantos” para o “como”! Provocado a falar do fim do mundo (cf. Mt 24, 34) aos que desejam saber “quando” ocorrerá a volta do Filho do Homem, indica como se preparar para essa vinda. Seus discípulos de todos os tempos hão de passar da curiosidade à sabedoria, de questões ociosas aos verdadeiros conteúdos, que colocam em jogo a vida nesta terra e na eternidade.

O Céu não é como um elevador ou um meio coletivo de transportes com uma placa indicando que está lotado. Se fosse uma questão de números, há muito tempo haveria um “não há vagas”. A Jesus não interessa o número, mas o modo com que caminhamos para o paraíso, pois para isso fomos criados, com um destino de felicidade eterna, que é oferecido a todos os seres humanos de todas as gerações.

Não basta pertencer a um povo determinado, ou mesmo ter conhecido Jesus ou a Igreja. Faz-se necessário tomar uma decisão pessoal, seguida de uma conduta coerente (cf. Mt 7, 13-14).

Num escrito considerado o primeiro Catecismo da Igreja, se lê: “Existem dois caminhos: o caminho da vida e o caminho da morte. Há uma grande diferença entre os dois. Este é o caminho da vida: primeiro, ame a Deus que o criou; segundo, ame a seu próximo como a si mesmo. Não faça ao outro aquilo que você não quer que façam a você. Este é o caminho da morte: primeiro, é mau e cheio de maldições - homicídios, adultérios, paixões, fornicações, roubos, idolatria, magias, feitiçarias, rapinas, falsos testemunhos, hipocrisias, coração com duplo sentido, fraudes, orgulho, maldades, arrogância, avareza, palavras obscenas, ciúmes, insolência, altivez, ostentação e falta de temor de Deus. Nesse caminho trilham os perseguidores dos justos, os inimigos da verdade, os amantes da mentira, os ignorantes da justiça, os que não desejam o bem nem o justo julgamento, os que não praticam o bem, mas o mal" (Cf. Didaqué, capítulos 1 a 5).

O caminho que vem depois de passar pela porta estreita do Evangelho desemboca na plena realização de todas as potencialidades humanas. O caminho da maldade é largo, mas só no início. A estrada dos vícios, e a avalanche de uso de drogas em nossos dias  prova isso, pede cada vez mais uma dose maior, levando à náusea e à tristeza, para depois chegar a um ponto em que o organismo não reage mais, conduzindo a um prejuízo, tantas vezes, irreparável. 

O cristão é chamado a fazer escolhas claras e coerentes com os valores do Evangelho. Por outro lado, olhando ao seu redor, considerará todas as pessoas, por machucadas que pareçam, candidatas ao Reino de Deus. Por vocação, realizará o sonho de Deus que tem o nome de unidade! Buscará a plena unidade na Igreja, a comunhão de todos os cristãos, a fraternidade entre as pessoas das várias religiões e a união de todas as pessoas de boa vontade, para a transformação de todas as realidades humanas, segundo os desígnios de Deus. Será a pessoa que convoca e não dispersa, enxerga a semente do Verbo de Deus plantada no coração de todos, fazendo com que seus braços e seu coração, escancarados pela caridade, sejam, em nome de Deus, portas abertas!


Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém - PA

Dom Alberto Taveira foi Reitor do Seminário Provincial Coração Eucarístico de Jesus em Belo Horizonte. Na Arquidiocese de Belo Horizonte foi ainda vigário Episcopal para a Pastoral e Professor de Liturgia na PUC-MG. Em Brasília, assumiu a coordenação do Vicariato Sul da Arquidiocese, além das diversas atividades de Bispo Auxiliar, entre outras. No dia 30 de dezembro de 2009, foi nomeado Arcebispo da Arquidiocese de Belém - PA.

17/02/2011 - 00h00

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Reflexão

Todas as pessoas costumam falar em justiça ,mas para a maioria delas o fundamento dessa justiça são princípios e valores humanos, principalmente o que está escrito nas leis. Para nós cristãos, esse critério não é suficiente para entendermos verdadeiramente o que é justiça. Não é suficiente em primeiro lugar porque nem tudo o que é legal, é justo ou moral, como por exemplo a legalização do divórcio, do aborto ou da eutanásia. Também devemos levar em consideração que todas as pessoas, embora sejam seres naturais, possuem um dom de Deus que faz delas superiores à natureza, participantes da vida divina, e como Deus é amor, o amor é, para quem crê, o único e verdadeiro critério da justiça

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