quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Quem semeia ventos...


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Dom Redovino Rizzardo, cs

Bispo de Dourados - MS

Quais são as notícias mais “vendidas”? As que vertem sangue e as que transpiram erotismo. Se alguém tiver dúvidas a respeito, assista a um telejornal e verificará que os reclamos de fatos negativos superam de longe os positivos!
Foi o que aconteceu comigo, em apenas três dias, durante o mês de julho. Na quinta-feira, dia 21, vim a saber que uma mulher havia sido presa num motel de Aparecida de Goiânia, após deixar seus dois filhos – uma menina de seis anos e um garoto de nove meses – dentro do carro, enquanto ela se divertia com dois homens. De acordo com a delegada de polícia, a incriminada se defendeu alegando que não tinha com quem deixar as crianças...

Na sexta-feira, a dose recrudesceu. A maior parte das notícias girou em torno de Anders Behering Breivik, um jovem que acabara de assassinar 77 pessoas. O fato aconteceu na Noruega, considerado o país mais pacífico e desenvolvido do planeta. À polícia, o criminoso explicou que sua intenção era acabar com o comunismo e o islamismo. Num manifesto que difundira pouco antes pela internet, ele explicou que tivera uma infância comum, que seus pais se divorciaram quando ele era ainda criança, que jamais lhe faltou dinheiro e que sempre gozou de toda a liberdade que quis...
No sábado, dia 23, quem ocupou as manchetes dos jornais foi a cantora Amy Winehouse, encontrada morta aos 27 anos, em sua casa de Londres, onde residia. Apesar do sucesso e da fama que cercavam seu nome em todo o mundo, sua morte ocorreu em consequência das drogas e do álcool que a escravizavam há muitos anos. Foi o que reconheceram seus amigos mais chegados: «Amy passou os últimos sete dias numa farra constante, tanto que as pessoas comentavam que ela iria beber até morrer. Havia sempre o perigo de algo assim acontecer. Ela estava constantemente fora de controle por causa da vodca. Bebia garrafa após garrafa, misturadas com drogas».
A meu ver, o que os três fatos revelam é a ausência de valores que dêem suporte e sentido à vida. Quem aceita acriticamente o que o mundo lhe oferece, cai num círculo vicioso infernal, onde a fama, a bebida, a droga, o sexo e a violência são consequências ou paliativos que nada conseguem senão aumentar seu vazio existencial. Ele acabará escravo de uma sociedade que, depois de acariciar e insuflar o seu ego, lhe cobra dobrado tudo o que fingiu dar... Verifica-se então, mais uma vez, o que a Bíblia descobriu há três mil anos: «Quem semeia ventos, colhe tempestades!» (Os 8,7).
Esses fatos aconteceram a partir da quinta-feira. No domingo – talvez pelo fato de ser o “Dia do Senhor”! –, num jornal de Campo Grande me deparei com uma reportagem que, em suas entrelinhas, trazia a solução do drama que frustra grande parte da humanidade.
Trata-se do relatório da viagem que a campo-grandense Márcia Chiad realizou na Espanha, percorrendo o “Caminho de Santiago”: «Nesta viagem, descobri um tempo diferente. Um tempo sem pressa, calmo, que sente o vento, o frescor da manhã, o calor intenso. Pude ouvir o silêncio! Tudo muito saboreado, presenciado, vivido. O caminho abre uma nova possibilidade de presenciar a vida, sentir Deus. Nada de ansiedades, grandes planejamentos e necessidades, além do que o corpo realmente precisa para caminhar e sentir o amor divino, a solidariedade, o companheirismo. Uma satisfação!».
Só se conserva o que se é capaz de deixar ou de dar: mais uma descoberta da Márcia: «Inevitável também não sentir o contato real com Deus. Ele ali está presente em tudo, em todos, no coração. Cada peregrino que passava, com um sorriso no rosto, um gesto de carinho, solidariedade, anunciava mais uma vez a presença dele. O caminho é muito sábio. O peso nas costas vai nos ensinando o quanto precisamos de tão pouco para sermos felizes. Quanto mais esvaziava a mochila, mais o meu coração se enchia da alegria de estar caminhando».
Por fim, quando se anda com Deus, as dificuldades não esmorecem o vigor, afirma a peregrina de Campo Grande: «Na hora em que achamos que o cansaço não nos deixa prosseguir, é ali que o caminho se mostra ainda mais belo, mais exuberante. As energias são totalmente recarregadas, como que num passe de mágica, quando avistamos uma igrejinha de pedra, simples, singela e maravilhosa».

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Reflexão

Todas as pessoas costumam falar em justiça ,mas para a maioria delas o fundamento dessa justiça são princípios e valores humanos, principalmente o que está escrito nas leis. Para nós cristãos, esse critério não é suficiente para entendermos verdadeiramente o que é justiça. Não é suficiente em primeiro lugar porque nem tudo o que é legal, é justo ou moral, como por exemplo a legalização do divórcio, do aborto ou da eutanásia. Também devemos levar em consideração que todas as pessoas, embora sejam seres naturais, possuem um dom de Deus que faz delas superiores à natureza, participantes da vida divina, e como Deus é amor, o amor é, para quem crê, o único e verdadeiro critério da justiça

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