Dom
Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo
metropolitano de Belo Horizonte - MG
A beleza das
decorações ou as alegrias das confraternizações do Natal devem enraizar-se no
mais recôndito do coração humano. A preparação para o Natal é um caminho
interior para dar sustento e consistências aos caminhos da vida e às
vicissitudes que desafiam a existência humana cotidianamente. Sabiamente, a
Igreja Católica na sua liturgia do tempo do Advento inclui na proclamação da
Palavra de Deus a profecia de Isaías. Os ecos dessa sua profecia têm forças
indicativas indispensáveis.
Trata-se de uma
profecia que cultiva a inclinação para ouvi-la em razão de ressoar a sua voz
com uma singular plenitude. É ímpar a beleza com que Isaías anuncia o Messias,
Um anúncio com força de interpretação do presente indicando caminhos
novos e a premência de novos propósitos assumidos em âmbito pessoal para
configurar e sustentar um tempo novo sempre esperado por todos em cada etapa da
história. A profecia tem, pois, força de interpelação. Necessária quando se
considera o congelamento de consciências e a naturalidade de certas posturas
advindas de arriscadas relativizações de valores e de compromissos cidadãos.
Isaías atuou na
história de Israel na segunda metade do século 8 a.C. Historicamente, profetizou
quando a poderosa Assur se preparava para conquistar a Síria e a Palestina,
tendo assistido a queda do reino de Israel e de Samaria, vendo com os próprios
olhos a extrema desolação de Jerusalém. Portanto, um tempo de derrocadas e
desolações, morais e na infraestrutura dessas sociedades. Sua palavra torna-se
um forte sinal de esperança. Seus discursos ganharam uma admirável contundência
na ordem interna da sociedade, situando bem o contexto político mais global e
incidindo sobre a conduta moral de cada cidadão, mostrando, com argumentos
incontestáveis, o quanto este valor tem força definidora nos rumos da
sociedade, levando-a a conquistas ou a derrocadas.
Seu discurso atingia
assim uma amplitude jamais vista. Essa amplitude é força educativa indispensável
para que uma sociedade supere seus descompassos e consiga fixar seu horizonte
emoldurado por razões que não incluem a mesquinhez, a desonestidade, a ganância
e a luxúria. O enfrentamento deste embate não pode prescindir das referências
morais com suas raízes em tradições e fontes sapienciais. O profeta ajuda uma
sociedade perdida a assumir a convicção de que seus desastres advêm da
imoralidade e a restauração de sua força brotará sempre da busca de uma conduta
ilibada.
O profeta, pois,
educa a consciência moral do povo e mostra-lhe que ela é o sustentáculo de suas
conquistas, de sua recomposição e a dinâmica de superação de suas incontáveis
fragilidades gerando descompassos e pesando sobre os próprios ombros. A
derrocada moral dos chefes, a regra de um jogo em que vale tudo e qualquer
coisa situa o povo num exílio que traz amarguras. Também faz perder a
independência, alimenta as ilusões dos números e das posses, tendo como
resultado a projeção em ruínas de todos extremamente enfraquecidos no seu poder
que um dia pareceu inabalável e inexpugnável.
A profecia tem,
então, como meta a correção desta obstinação que cega impedindo de fixar o
olhar noutro alguém. Seu anúncio messiânico convida a encontrar a realidade
nova que está visível no coração desse tempo indicando que o novo não virá do
simples poder e das posses, mas da simplicidade amorosa da manifestação de
Deus. Anuncia assim que ‘um broto vai surgir do tronco seco... das velhas
raízes um ramo brotará’. O sinal será dado pelo próprio Deus, pois ‘eis que a
jovem conceberá e dará à luz um filho e lhe porá o nome de Emanuel’.
Isaías, entendido de
política internacional, e à luz dela interpreta com autoridade os
acontecimentos, traz ao povo o único caminho possível, no encontro com o
Messias, na força de sua presença, para a superação de tudo o que desfigura uma
sociedade que foi poderosa. Um povo que foi forte, de reis imbatíveis agora
exilados.
Essa presença, do
Messias, Cristo Jesus, o Menino Deus do Natal, é a única fonte com força para
incidir na conduta de cada um fazendo de todos capazes. Uma sociedade diferente
da lógica que Deus chama de mãos sujas de sangue, dos que, gananciosamente,
ajuntam casas a casas, emendando terreno com terreno, diz o profeta Isaías, até
não sobrar espaço para mais ninguém, tornando-se donos de tudo.
Na verdade, o profeta
revela onde estão as raízes dos males que afligem o povo. Comprova que o povo
anda para trás porque abandonou o seu Senhor, na pretensão de ser dono. A vinda
do Messias, o Cristo Salvador, tempo de uma nova aliança, traz os ecos da
profecia como convite: “Lavai-vos, limpai-vos, tirai das minhas vistas as
injustiças. Parai de fazer o mal e aprendei a fazer o bem. Buscai o que é
correto, defendei o direito, fazei justiça. Natal é busca do novo pela força dos
ecos de uma profecia.
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