O objetivo das Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no
Brasil (2011-2015) começa dizendo que temos que “evangelizar a partir de
Jesus Cristo” e termina indicando para onde isso nos conduz: “para que todos
tenham vida, rumo ao Reino definitivo.”
Vida, paz , justiça, harmonia são características do projeto de
Deus. As cenas bíblicas que ilustram esse projeto falam de felicidade: o
paraíso inicial era um lugar livre de dores; a profecia de Isaías 65 fala de um
novo céu e nova terra com gosto de festa, sem choro, sem gemidos, com lobo e
cordeiro pastando juntos; o final da história, em Apocalipse 21, mostra o
projeto realizado na Nova Jerusalém, onde toda lágrima será enxugada, onde Deus
vai morar no meio dos homens, numa cidade de portas sempre abertas para todos
os povos, onde não há mais necessidade de templos porque o próprio Deus é o
grande templo para todos.
A catequese precisa apresentar uma imagem de Deus compatível com esse
magnífico projeto. Deus quer os seres humanos, sua obra mais amada, vivendo em
paz num clima de felicidade. A grande vitória de Deus não é jogar gente no
inferno, é a humanidade feliz, vivendo em paz. Não há paz sem justiça,
fraternidade, mútua compreensão, solidariedade, valorização do outro, trabalho
conjunto para o bem comum.
Mas, tanto a história do mundo no passado como as notícias do jornal no
presente nos apresentam cenários bem diferentes: são guerras, declaradas
ou disfarçadas, competições de mercado que desconsideram valores
humanos, preconceitos que geram separação e desprezo do outro, falsos
pretextos para ataques de variados tipos. Uma das grandes funções da
catequese é motivar os catequizandos para a construção de um mundo diferente,
como operários e colaboradores do grande projeto de Deus. Trata-se muito mais
de ter um ideal de vida do que de saber simplesmente doutrinas.
Num mundo como o nosso, temos a possibilidade de construir um exército
diferente, construtor de paz, voltado para o bem do outro (seja ele quem for) e
capaz de agir na gratuidade, sem interesses escondidos. Isso requer um tipo
muito especial de educação, onde se faz leitura da realidade, se apresentam
testemunhos de caminhos que já estão sendo abertos e se cultiva uma
espiritualidade marcada por respeito à alteridade, combinado com reconhecimento
da unidade da família humana. Aliás, vivência de gratuidade, alteridade e
unidade são também propostas presentes nas nossas atuais Diretrizes para a Ação
Evangelizadora da Igreja no Brasil. Diante disso, o ecumenismo e o diálogo
inter religioso têm uma contribuição muito especial a oferecer. Seria até meio
ridículo querer educar para a promoção da paz se ao mesmo tempo se
alimenta a divisão entre os próprios cristãos e não se respeitam outras religiões.
Mas se superamos as divisões e caminhamos para o diálogo maduro e fraterno,
estaremos mostrando na prática como é que se constrói paz. A partir de alguma
reflexão ecumênica, a catequese pode mostrar como é importante saber ouvir sem
preconceito e como é muito mais sábio transformar o diferente em parceiro em
vez de excluí-lo simplesmente. Temos um mundo inteiro para transformar. Não
seria um bom começo buscar entender o diferente e valorizar os dons que ele
também pode oferecer no desempenho dessa tarefa tão imensa?
Therezinha Cruz
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